sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Já que o blog está parado a não sei quanto tempo, e que hoje eu estou dando uma folga à cabeça, vamos parar e escrever um pouco. xD

Agora lembrei de um tipo de arte efêmera que existe por ai. Trata-se de obras de arte com prazo de duração muito curto, feitas sobre vegetais, papel, areia, que duram apenas algumas horas, alguns dias. Pensei muito nesse tipo de concepção, uma forma de visualizar a vida e a existência em si como algo passageiro, algo incerto. O passado esta perdido, o presente não existe e o futuro nunca chega. Estamos todos parados no nada, eu não estou aqui, você, leitor, tampouco. Mas não quero entrar muito nesses ébrios devaneios. Estava falando da efemeridade, e voltando àqueles artistas, não posso deixar de comparar suas artes à escrita, que é com o que eu mais me identifico (talvez porque eu também tento escrever meus poemas, redações, histórias). Enfim, a escrita pode parecer mais tangível, já que há muitos livros estão por ai, em livrarias, bibliotecas, estantes, mesas. Por todo canto podemos ver um ou dois livros com sabe-se lá que tipo de ideias, comparações, estórias, ideologias. Ok, isso é um pouco fantasioso, mas é porque tenho contato com eles desde criança, acho que é até natural eu seguir a carreira das letras, quer dizer, desde pequeno ficava intrigado em o quanto de vida e tempo podem estar depositados em menos de meio quilo de papel. Voltei novamente ao Tempo, penso no tempo que o escritor levou para redatar suas palavras, depois, no tempo que demoramos para as ler. Gostaria de tempo para ler todos os livros escritos no mundo, fico triste com a realidade de não poder fazê-lo. E os livros podem durar muito tempo, eu, por exemplo, tenho livros na prateleira de vinte, trinta, e sei lá quantos anos a mais do que isso. Logo, tenho a impressão de o material que está no livro é eterno, mesmo que sejam queimados (como na Segunda Guerra Mundial) haverão outras cópias, reedições, enfim, ainda existem papiros do Egito em museus (roubados, óbvio). Mas e a efemeridade, onde entra?

Pois bem, é natural das revoluções quebrar paradigmas. La primer cosa que mi professor de história, Tomagnini, dijo quando empezó a enseñar la revolución francesa fue que “revolución” quiere decir solamente “cambio profundo”. As vezes tão profundo que não podemos imaginar a realidade anterior ao colapso, vida sem telefone, internet, Twitter... Então fico pensando novamente na literatura. Contrapondo, por exemplo, os livros de poesia (escritos, autografados e depositados na prateleira) com os poetas de improviso. A poesia desses últimos dura somente o instante em que é declamada, não há textos nem folhas, só inspiração. Quantos milhões de versos, histórias, epifanias se perderam simplesmente porque ninguém anotou? O que seria da filosofia de Sócrates se Platão não tivesse anotado tudo?

Muitas vezes já fiz disso. Jogar fora folhas, deletar arquivos com poemas, rimas, contos, só porque não gostei do resultado final (raramente gosto). E se mais alguém gostasse? Não me importo, assim como a criança que não se importa que o mar leve seu castelo de areia. No final nada mais importa, a arte não é feita para o tempo, é feita para o Homem, para a sociedade, que é tão frágil, tão curta, que não vale o tostão se preocupar com nada.